Brasil será o segundo maior mercado de cosméticos

Vendas do setor crescem mais de 10% ao ano e passaram sem arranhões pela crise econômica

A professora de educação física Elizandra Bittencourt Sotomaior gasta 20% do que ganha com cosméticos, perfumes e maquiagem. Nos últimos anos, a lista de compras da auxiliar administrativa Rosa Alves, por sua vez, passou a ter também cremes que combatem o envelhecimento, delineadores e gloss. A estilista Louise Alves volta do exterior com a mala abarrotada de perfumes e maquiagens, além de comprar cremes manipulados no mercado nacional. As brasileiras nunca compraram tanto produtos de beleza como agora.

Mesmo com a crise econômica no ano passado, essa indústria bateu recorde e cresceu 14,7%, com uma receita de R$ 24,97 bilhões, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos no Brasil (Abihpec). Descontando a inflação no período, o crescimento foi de 11,8%. Para este ano, com a retomada da economia, as empresas esperam um avanço real de até 12% e acreditam que o Brasil tem grandes chances de superar o Japão e se transformar no segundo maior mercado mundial, atrás apenas dos Estados Unidos.

Pela primeira vez, o Brasil se tornou, em 2009, o maior mercado da gigante norte-americana Avon, desbancando a liderança histórica dos Estados Unidos. O Boticário, que tem 2,8 mil lojas no país, aumentou em 20% suas vendas no ano passado e atingiu a receita de R$ 1,25 bilhão. A Natura cresceu 18,6% e encerrou o ano com faturamento líquido de R$ 4,24 bilhões.

No mercado global, o país subiu para a terceira posição em 2007, ao superar a França. Dados da Euromonitor mostram que em 2008 – os números de 2009 ainda não estão disponíveis – o país detinha 8,6% do mercado global. No setor atuam 1,8 mil empresas no país. O Paraná tem o terceiro maior polo produtor, com 155 companhias.

Ascensão social

O aumento da renda e a ascensão social de milhares de pessoas para a classe média ajudam a explicar a disparada do consumo nos últimos anos, em que a taxa de crescimento anual ficou na casa dos 10%. A projeção do presidente da Abihpec, João Carlos Basílio da Silva, é que nos próximos cinco anos o mercado continue a crescer na casa dos dois dígitos.

“Todo mundo olha para esse mercado no Brasil”, diz o presidente do O Boticário, Artur Grynbaum, que prevê um aumento da concorrência no setor, inclusive internacional, nos próximos anos. “Muitas empresas internacionais vêm com uma fome enorme para esse mercado”, acrescenta o fundador da rede e atual presidente do conselho de administração, Miguel Krigsner. O grupo O Boticário, que vende seus produtos por meio de lojas franqueadas, acaba de criar uma nova empresa, a GKDS, para atuar em novos canais de venda do setor com uma nova marca.

O cenário favorável também está trazendo novos investidores para esse mercado, como o empresário Henrique Alves Pinto, ex-controlador da construtora Tenda – adquirida pela Gafisa – que comprou a mineira Água de Cheiro. Depois de um período de decadência, a empresa voltou à mídia, mudou o logotipo, o layout das lojas e abriu 30 unidades pelo país.

Para as consumidoras, o aumento da oferta de produtos e novas tecnologias tem sido um dos motivos para comprar mais. “Sempre que aparece uma novidade eu experimento” diz a professora Elizandra, que elege o batom, os sabonetes e os cremes para o corpo como os seus preferidos. Já a estilista Louise Alves se diz uma consumista assumida de perfumes e cosméticos. “Pelo menos 10% do meu rendimento vai para a compra desse tipo de produto”, afirma.

Pasta dental

As empresas do setor têm se dedicado a entender sobretudo o comportamento do consumidor da nova classe média. Embora as empresas venham lançando linhas mais populares de maquiagens, perfumes e cosméticos, o consumo de itens básicos, como pasta dental e sabonetes continua a crescer, um indicativo de que a demanda da população de baixa renda está longe de ser atingida.

Em 2009, 58% das vendas desse mercado estiveram concentradas em higiene pessoal. O destaque foi a categoria de sabonetes, que registrou crescimento em receita de 27%. Boa parte desse fenômeno vem da busca por produtos de maior valor agregado, como os sabonetes líquidos.

A categoria de cremes dentais também apresentou alta expressiva de vendas em 2009: 17,5% em valor e 8,7% em volume. No segmento de cosméticos, que respondeu por 27% do total das vendas da indústria no ano passado, a alta foi de 15% em faturamento e 3% em volume. Nesse segmento, os esmaltes estão em alta, com aumento de 34% em faturamento, para R$ 390 milhões. A venda de maquiagem também cresceu forte (40%), para R$ 391 milhões.

Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/economia/brasil-sera-o-segundo-maior-mercado-de-cosmeticos-0z92kburdi3bj09g54dpxll5a